E porque separar pescadores dos gestores e intelectuais? Pq não usar toda essa verba que sustenta teses, dissertações, infindáveis leis e documentos de ONU, MPA e IBAMA e investir na infraestrutura de vilas pesqueiras? Unidades educacionais agradáveis com temas contextualizados abordando a questão da pesca, estudos de estoque. Investir em saneamento básico, unidades de saúde, píer amplo e seguro, áreas de lazer, esporte, cultura. Existe o dinheiro para isso, ele está sendo usado para fingir que intelectuais e gestores da pesca tem mais importância do que os pescadores. Várias vezes ao longo da dissertação me perguntava, mas o que eu estou fazendo nesse trabalho, eu nunca pesquei, nunca morei numa vila de pescadores, eu sequer compro peixe! Sem dúvidas, era o Loredi (pescador) que deveria estar ganhando essa bolsa e fazendo essa pesquisa, ou que pelo menos deveria ter uma condição de moradia como a minha, possibilidade de viajar com a família nas férias ou optar por tomar, ou não, haagen daz de sobremesa.
Vejo o grande esforço de René, na presidência da ong Terramar para salvar e certificar a lagosta pescada artesanalmente na Prainha do Canto Verde. Um esforço monstro envolvendo ONU (através do PNUMA), ongs europeias com experts em gestão e pesca de lagosta. E enquanto isso o modo de vida dos pescadores continua o mesmo, o acesso a informação ridiculamente limitado. E quem vai pagar o trabalho, e viagens de tantos experts? Me lembro de um trecho do livro Hell em que a autora, socialite francesa, vai ao restaurante e pede lagosta com as amigas, mas elas cheiraram tanta cocaína que não sentem fome, apenas bebiricam sua taça de cristal com champagne (orgânica e familiar, quem sabe?!) e vai embora, sem tocar na lagosta.
Acho que a maior conclusão do meu trabalho é que é inútil. Esse debate de gabinete, de academia é uma forma de ser sustentada as custas dos trabalhadores braçais que são mantidos na ignorância e miséria para continuar sustentando ministérios, ongs, onu, pesquisadores, acadêmicos, cientistas, cursos, professores, laboratórios, projetos, reportagens, documentários.
E no final das contas sabemos bem que no fundo, olhando sem medo e buscando a verdade a maioria das ocupações/trabalhos são inúteis mesmo.
ps.: o título da postagem é uma pichação de Rio Grande, que não tenho paciência de fotografar, mas devo dizer que AMO os pichadores rio grandinos, profundamente!