segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O que estamos fazendo?

Hoje, meu primeiro dia de trabalho (na dissertação) do ano, lendo documentos da ONU, do IBAMA, reportagens, trabalhos e artigos acadêmicos, de economistas, sociólogos, oceanógrafos, entre outros fique um instante paralisada. Quem paga todos esses nobres intelectuais que, como eu (no momento), dedicam sua alma na causa da pesca? Quem sustenta ONGs que se indignam com o declínio dos estoques? Quem trabalha no plano real, e não virtual, afinal?

E porque separar pescadores dos gestores e intelectuais? Pq não usar toda essa verba que sustenta teses, dissertações, infindáveis leis e documentos de ONU, MPA e IBAMA e investir na infraestrutura de vilas pesqueiras? Unidades educacionais agradáveis com temas contextualizados abordando a questão da pesca, estudos de estoque. Investir em saneamento básico, unidades de saúde, píer amplo e seguro, áreas de lazer, esporte, cultura. Existe o dinheiro para isso, ele está sendo usado para fingir que intelectuais e gestores da pesca tem mais importância do que os pescadores. Várias vezes ao longo da dissertação me perguntava, mas o que eu estou fazendo nesse trabalho, eu nunca pesquei, nunca morei numa vila de pescadores, eu sequer compro peixe! Sem dúvidas, era o Loredi (pescador) que deveria estar ganhando essa bolsa e fazendo essa pesquisa, ou que pelo menos deveria ter uma condição de moradia como a minha, possibilidade de viajar com a família nas férias ou optar por tomar, ou não, haagen daz de sobremesa.

Vejo o grande esforço de René, na presidência da ong Terramar para salvar e certificar a lagosta pescada artesanalmente na Prainha do Canto Verde. Um esforço monstro envolvendo ONU (através do PNUMA), ongs europeias com experts em gestão e pesca de lagosta. E enquanto isso o modo de vida dos pescadores continua o mesmo, o acesso a informação ridiculamente limitado. E quem vai pagar o trabalho, e viagens de tantos experts? Me lembro de um trecho do livro Hell em que a autora, socialite francesa, vai ao restaurante e pede lagosta com as amigas, mas elas cheiraram tanta cocaína que não sentem fome, apenas bebiricam sua taça de cristal com champagne (orgânica e familiar, quem sabe?!) e vai embora, sem tocar na lagosta. 

Acho que a maior conclusão do meu trabalho é que é inútil. Esse debate de gabinete, de academia é uma forma de ser sustentada as custas dos trabalhadores braçais que são mantidos na ignorância e miséria para continuar sustentando ministérios, ongs, onu, pesquisadores, acadêmicos, cientistas, cursos, professores, laboratórios, projetos, reportagens, documentários. 

E no final das contas sabemos bem que no fundo, olhando sem medo e buscando a verdade a maioria das ocupações/trabalhos são inúteis mesmo. 

ps.: o título da postagem é uma pichação de Rio Grande, que não tenho paciência de fotografar, mas devo dizer que AMO os pichadores rio grandinos, profundamente!