terça-feira, 30 de julho de 2013

O papa é pop

Ok. Penso que já amadureci suficientemente esse tema na minha caixola para escrever algo. Certamente não é uma posição definitiva, visto que somos complexos e dinâmicos.

Inicialmente, vamos pensar em todas as relações em que haja opressão. Como se define quem será o opressor? Certamente, aquele com o coração puro que respeita a liberdade alheia como a sua própria não terá intensões obscuras de manipular o parceiro, afim de que este realize suas vontades. O opressor será o que não vê mal algum em agir assim. Eu diria que isso define uma pessoa má, mas o simplismo atual que definimos o bem e o mal acaba prejudicando a interpretação dos atos. Enfim, o opressor será o que não considera problemas manipular situações para benefício próprio.

Assim, ninguém que realmente acredite na liberdade e na consciência que cada ser humano traz consigo (sabe-se lá de onde) exercerá qualquer tipo de poder, pois é contraditório. Isso por si só define todas as pessoas que nesse momento exercem cargos de poder. Ou elas não acreditam na liberdade de cada indivíduo, ou estão batalhando constantemente com um conflito interno.

Os ensinamentos de Jesus Cristo são incrivelmente nobres, libertadores e capazes de transformar o planeta num verdadeiro paraíso politico-social. A instituição católica, teria a missão de levar esse ensinamento a todos os corações. Só que não. Não preciso, não quero e nem tenho capacidade de discorrer sobre todos os escorregões dessa instituição que costumava queimar hereges na fogueira, que depois viemos a chamar de gênios da ciência que contribuíram enormemente para o progresso da humanidade.

E isso foi depois de Jesus ter falado insistentemente sobre dar a outra face, não revidar o mal com o mal e outros conselhos muito úteis para a consolidação de uma sociedade justa e harmoniosa.

Mesmo assim sr Francisco faz parte desta instituição. Veja, eu não poderia julgá-lo, estou apenas constatando um fato. Não sei os motivos que na consciência dele o fizeram acreditar que fazer parte dessa instituição seria uma aproximação maior à Deus do que não fazer.

Podemos concordar que apesar dos milhões de fiéis, gráficos muito bem elaborados nas entranhas do vaticano devem apontar uma queda constante do número de fiéis pagantes na Igreja Católica. Como contornar esse fato?

Bem, as confissões consistem num monitoramento muito eficaz para estratégias de marketing. Você e eu sabemos como é insuportável pensar em quantas pessoas vão morrer de fome hoje. E sabemos como os desabafos e questionamentos à igreja não deixam dúvidas sobre "que igreja queremos". E podemos imaginar quantos fiéis sofrem e os mais inocentes confessam, provavelmente com sofrimento, tendências homossexuais.

Sim, estou dando a entender que acho extremamente estratégico ter um papa que sustente esse discurso humilde e libertador. Ele disse que pode ser gay e amar a Deus!!! Todas as empresas estão se dando conta da importância de cativar esse público crescente.

Por outro lado, sou incapaz de assistir a entrevista de um velhinho que usa argumentos nos quais eu sinceramente acredito e pensar que ele está mentindo descaradamente com o único intuito de atrair fiéis e seguir com a concentração de renda e poder da igreja. Mas, é exatamente isso que ele está fazendo.

Se ele age assim de modo consciente, eu fico profundamente desesperançada. Pois é extremamente cruel alguém usar um discurso lindo com a intenção única de manipular, enganar e extorquir.

Mas, se ele realmente acredita no que fala. E por toda a vida fez parte dessa instituição se voltando para as potencialidades positivas da mesma. E acabou caindo no cargo de papa devido a concordância de voto dos que concordam com seus verdadeiros ideais com os que estrategicamente pensam no aumento de fiéis.

Então espero que as palavras se materializem em ações e assistamos uma profunda transformação nessa instituição milenar. Ou quem sabe seu fim. Fiquei sabendo de uma profecia de São Malaquias que previa a existência de apenas 113 papas. Eis que temos o 113º.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Menos saúde e educação.

Interessante, alguns assuntos são inquestionáveis. Mais saúde, mais educação. Existe alguém em sã consciência que se oponha a tais reivindicações? Não, todos estamos de acordo e parece inquestionável a necessidade de investir-se ainda mais nesses campos tão necessários a vida humana.

Mas nada é, nem deve ser, inquestionável. Será mesmo necessário aumentar o investimento nesse sistema de saúde e educação? Será que é isso que precisamos para alcançarmos uma sociedade justa e feliz?

créditos: http://felipa-de-noailles.deviantart.com/
Comecemos pela "educação". Aos seis anos de idade somos convidados a deixar nossas casas e marcar presença, obrigatória, em uma escola. Lá, numa sala fechada, iluminada artificialmente com uma luz fria, somos obrigados a iniciar nosso convívio social com toda a artificialidade do momento. Ninguém sabe muito bem porque está lá. Para os professores de crianças abastadas é para o futuro delas, para que possam "se tornar alguém", ter futuro, e conseguir um bom emprego. Para os de periferia é para afastá-los dos pais ignorantes que certamente o tornarão criminosos caso a escola salvadora não intervenha. Sem discutir o sucesso desses dois objetivos, ainda que sejam alcançados, que os primeiros consigam ser empregados em cargos de comando e os segundos sejam afastados do tráfico, eles serão seres humanos felizes?

Porque temos tanta fé na educação e medo de questionar se de fato sua existência é mesmo necessária. Lembremos que se alimento nasce do chão e água cai do céu, porque temos que aprender álgebra e história para não morrermos de fome? Não seria mais interessante aprendermos a sobreviver no planeta do que no sistema?

Me sinto a vontade de escrever pois cada vez mais percebo que não sou a única a conviver com a sensação de que tem algo errado. Frequentamos a escola, com esforço, e imposta gratidão pela oportunidade. Escolhemos um curso de graduação, como escolhemos o sabor do sorvete, nos graduamos e seguimos sem ter a menor noção de quem somos nós e o que estamos fazendo aqui. Alguns tem mais sucesso em se convencer de que essas perguntas são irrelevantes e não levam a nada, e se convencer da utilidade de seu estudo e seu emprego. Mas, hora ou outra o "bicho pega". E reparamos que se nós não sabemos sequer como nos perguntar essas questões tão importantes a geração futura tão pouco saberá.

A escola serve para garantir a reprodução do que está. Sempre mais do mesmo. E não adianta modernização nas salas de aula, atualização de currículo, aumento na remuneração dos professores. É uma doce ilusão pensarmos que ela serve para formação de seres humanos mais plenos e conscientes. Encarcerar crianças com a obrigatoriedade de sua presença numa instituição é exatamente o que distância nossa existência da plenitude e felicidade, e é onde começa a morte de nossa consciência.

Não sou a única que pensa isso. Isso não é um devaneio. Esse atual sistema me parece mais surreal do que um mundo sem escolas. Aconselho fortemente a leitura desse texto de Daniel Quinn.

Quanto a saúde. Porque as pessoas vão a hospitais? Porque desenvolvem doenças crônicas? Porque sofrem acidentes? Não estaria a causa no nosso modo de vida? Investir cega e massivamente em hospitais é correr atrás do rabo, é remediar efeitos alimentando sua causa. É estúpido.

Na nossa atmosfera circula gases tóxicos saídos das mais inusitadas chaminés e carburadores, constante e diariamente. Nossas águas, além de circularem por essa atmosfera, recebem diretamente efluentes tóxicos. Nossos alimentos crescem em solos, adivinhem só, tóxicos! Sinto muito, mas agrotóxicos não são necessários para aumentar a produção de alimentos e extinguir a fome do mundo, esse argumento é cruelmente inválido. A agroecologia familiar seria muito bem capaz de alimentar a todos. Todos os nossos móveis e utensílios, desde bebê, estão impregnados por substâncias tóxicas (esse documentário Story of Stuffs é muito bacana).

Nossos empregos são estressantes, e muitas vezes totalmente inúteis. Só servem para a existência de salário e para distrair o pensamento de questões como a conveniência da existência de salário! Não dão condição de prática de exercício ao ar livre, fundamental para manutenção de um organismo e mente saudável. Não seria melhor adoecermos menos do que tratarmos mais?

Sobre os acidentes que lotam os hospitais. Automóveis. Nada é mais didático para entendermos nossa sociedade do que esses doces e confortáveis vilões. Poluem o ar, detonam o solo promovendo a mineração, alimentam a indústria petrolífera, escancaram a injustiça social - contribuindo com altos índices de violência, e ainda por cima estão atrapalhando o trânsito! Ah e claro, são chave no entupimento de emergências, por serem manejados por pessoas desequilibradas. Então, contratemos mais médicos, aumentemos seus salários, construamos mais hospitais, e claro, dupliquemos ruas e estradas. Para termos sempre mais do mesmo... Alguém vê algum único sentido nisso?

Todas as soluções óbvias que saem nos jornais, ou circulam no senso comum, são uma louca e desesperada tentativa de manutenção do que está. Lei que torna corrupção crime hediondo. Mas, por Deus do céu, não será tão óbvio isso? Será que precisa alguém dizer que corrupção é crime, outro para discutir o quão foi grave o crime, outro para analisar quanto tempo encarcerado vale para pagar o tamanho do crime, com quantas bananas se paga uma maçã. Estamos correndo atrás do rabo e o remendo está saindo pior do que o rasgo.

Tentamos, tentamos de todo o jeito e com toda a força e boa vontade manter o sucesso desse sistema. Mas, ainda que se haja investimento no sistema atual de educação, e saúde, ainda que a violência urbana e a desigualdade social diminua, ainda que a corrupção se minimize, ainda assim teremos os jovens infelizes do Japão para nos lembrarmos que não basta.

Talvez seja a hora de reconhecer que por mais que tentemos com todo empenho e boa intensão, esse sistema não serve mais. Um sinal disso são todas essas pessoas nas ruas do mundo inteiro. Não é só pelo Cabral, ou só pela Irmandade Muçulmana, ou só pelas medidas de austeridade européia, é sobre a insustentabilidade e ruptura do sistema. E isso não se restringe as manifestações, corriqueiramente assistimos o efeito de negação de mudança, crianças que massacram em escolas, homem que surta assassina e queima dinheiro, tantas e tantas notícias que não representam loucos, representam a loucura do que vivemos. O que é necessário para reconhecer isso? A mim parece tão óbvio, e tão positivo!

Não vou mais pedir por mais "saúde" e "educação", pois podem interpretar como "mais investimento financeiro no sistema educacional e hospitalar".

Vou pedir por lazer e cultura.

Será que o recado será claro o bastante para não sofrer distorções e promover mais do mesmo?

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Facebook me educa

Aquele senhor admirável já dizia "ninguém educa ninguém, as pessoas se educam juntas"! Ou algo do tipo. Para mim isso é extremamente perceptível no facebook!

Sim, eu sei, tem muita postagem inútil e desanimadora. E por isso alguns criticam ferozmente essa poderosíssima ferramenta. Eu tento defender como posso, nem sempre obtenho sucesso.

Desnecessário dizer que essa revolução (transformação de maneira repentina, visto que brasileiro de classe média protestando é algo incomum) não existiria não fosse essa rede. Não haveria como realizar o chamamento nem a divulgação de imagens, filmes e relatos.

Por minha parte, curti umas páginas feminista que estão me mostrando preconceitos que eu tinha e ignorava!

Foi a sensação que tive ao ler o relato de uma pessoa transexual, que depois de 15 anos da cirurgia mudou seus documentos, certidão de nascimento, RG, CPF, título de eleitor, etc, e foi se candidatar a uma vaga (num cargo baixo) na rede Carrefour.

Tudo certo, pediram que abrisse uma conta no banco, e trouxesse outros documentos como histórico escolar. Feito isso, ela retorna com o histórico, único documento que havia deixado de alterar.

A contratante olha, pede licença, sai por uns minutos, e retorna com a notícia "olha, me desculpe, não há mais essa vaga". Meio confusa, nossa protagonista retorna pra casa. No dia seguinte sua sobrinha te liga e diz. Tia, aqui no jornal de hoje eles ainda estão convocando para vaga que tu tinhas te candidatado!

Eu não sei quanto a você, mas eu tive a oportunidade de viver numa família majoritariamente conservadora e reacionária, e assim era a escola que me alfabetizou. Sempre fui levada a crer que as pessoas são o que são e fazem o que fazem por opção. E como parece ser assim comigo, é muito fácil aplicar essa regra a todos os outros seres humanos, ainda mais por que eu não veria problemas em contratar uma pessoa transexual para trabalhar comigo. Bem, hoje penso que isso é absolutamente ingênuo e romântico.

Pensar que eu só me prostituiria se quisesse, não significa que seja assim com todas as outras pessoas. É uma conclusão baseada em um "n" amostral muito reduzido. Ainda que seja assim com tooodas as minhas coleguinhas, o grupo social, a classe, continua sendo a mesma, o que é muito restrito.

O interessante é que conheço ferrenhos defensores do capitalismo, que devem me julgar romântica, por aspirar um mundo diferente onde os valores sejam outros, devem pensar que eu sou ingênua. Mas, vejam, quem será mais romântico e ingênuo? Os que acreditam que não há injustiça e que todas as pessoas tem iguais oportunidades e condições e que só se prostitui que quer e gosta, ou eu que (agora) reconheço que se existem tantos travestis se prostituindo não é porque seja uma opção deles, é por causa (na maioria) da falta de opção deles?

Interessante pensar num capitalista selvagem como um ser romântico e ingênuo, mas acho que os que eu conheço são assim mesmo... não são maus, são teimosamente ingênuos.

Ninguém se marginaliza por opção. Ninguém sonha em ser usuário de crack, ou se prostituir com 14 anos de idade. Ninguém prefere viver com uma bolsa miserável para não ter que trabalhar. Pensar que todos são livres e vivem como querem, e colocar todos que passam necessidades como merecedores dessas necessidades por não enaltecer o trabalho árduo e o esforço recompensador é uma ingenuidade absurda.

Eu converso com pessoas que são promovidas com altos salários e converso com pessoas que vivem em casas do tamanho de um banheiro, passam fome e frio, e garanto, não há grandes diferenças. A promoção e o salário, mesmo na sociedade da meritocracia, não selecionam o mais apto e o melhor.

Convenhamos, quem não é capaz de preencher uma planilha? Um mês de instrução para alguém que esteja afim e pronto, não exige grandes habilidades. O que significa que aquele engravatado não é em nenhum aspecto melhor, mais inteligente, mais evoluído ou nada do que aquele que mora em um barraco.

Desculpe, sei que para se graduar em contabilidade teve que haver grande empenho e esforço, puxa vida, como houve dedicação, horas em claro estudando. Parabéns pela determinação, mas isso continua sendo inútil para classificar alguém como melhor ou pior ou garantir quem merece trocar de carro todo ano e quem merece morrer de fome.

Aliás, quem garante que aquele que está usando crack agora não seria melhor aluno que tu, e que se tu tivesse nascido com as condições dele não seria um criminoso mais violento? Dói pensar assim, dói pensar que não fizemos nada além de ter tido a sorte de por acaso nascer onde nascemos.  Dói pensar que é uma tremenda ilusão achar que todos tem acesso ao que tivemos. Dói pensar que a história que a Rede Globo mostra do favelado que se formou músico e agora toca na orquestra de Paris é uma raríssima exceção, e somente por isso pode ser apontada.

Mas, se aqui estamos é para agarrar a oportunidade do poder que temos de mudar. E essa mudança começa na maneira de vermos nossa sociedade. Parar de ver como menos nos machuca, tentando loucamente nos proteger de uma possível depressão.

Aliás, se esse é seu medo, saiba que no meu reduzido n-amostral, os que se fecham nessa bolha tentando se proteger dessa visão nua e crua da realidade se deprimem e sofrem mais. Sofrem mais porque entendem menos. Pobre de mim, como sofro. De onde vem essa culpa imensa que eu sinto? Me perguntava sem querer saber a resposta, uma pessoa querida que logo emendava, "é resquício da minha educação católica. Eu estou aqui é para ser feliz".


Mas, não há essa possibilidade quando embaixo do seu nariz ocorre injustiça e opressão. Não existe a menor possibilidade de nenhum ser humano ser feliz adquirindo um produto fruto da maior injustiça social e ambiental que um se pode realizar. Por mais que haja esforço para ignorar esse fato, hoje em dia sabemos muito bem como as coisas são feitas, e sabemos que não seremos felizes, por mais que tentemos, numa sociedade injusta.

A roupa, o carro, o dinheiro e o status são uma ilusão que nos levam a reduzir a existência humana a isso. Conjugo o verbo na primeira pessoa do plural porque ainda fico deslumbrada ao ver uma moçoila num salto alto, bem maquiada, com sorriso cuidadosamente ensaiado, e porque tenho uma fortíssima sensação de que não sou a única...

O dinheiro nada mais é do que um meio. Nunca deveria ser encarado como um fim, porque limita em muito nossa existência e nossa capacidade. Um CEO que produz carros para enriquecer é um tremendo idiota e ignorante. Um governante que vê em uma montadora empregos, investimento (compensação ambiental), e votos, é ainda mais idiota. Produz-se carros para as pessoas se locomoverem, e se todos vissem nisso a finalidade de uma montadora concluiríamos que precisamos de outro meio de locomoção.

Se você pensa em fazer doutorado para virar professor e ter dinheiro garantido, fácil e estável, bem, você vai ser um péssimo professor, assim como um ser humano bastante medíocre e limitado. (E aqui o "você" não é necessariamente você, sou eu mesma!)  Ganhar dinheiro e estabilidade financeira é muito pouco, caro aspirante a doutor, isso tem gente que consegue casando! Como professor universitário, podes fazer muito mais que isso, podes influenciar no rumo da ciência e da sociedade. Mas para isso, seus princípios éticos e morais devem ser bem estruturados e profundos.

O que te motiva?
http://www.youtube.com/watch?v=bIhHrL73d4s

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Péssimo e ultrapassado Paradigma

Algo me deixou bastante reflexiva na noite fria dessa segunda-feira.

Fui à pré-conferência do meio ambiente de minha cidade. O tema era Unidade de Conservação e uso do território. Não sei porque motivo sou bastante simpática a atual secretária de meio ambiente, acho que é porque trabalhei com o secretário adjunto e nutro bons sentimentos em relação à ele. mas

Logo na abertura do diálogo a secretária informou que este é um assunto de extrema importância, pois, sem o plano das unidades de conservação o município não pode receber a compensação dos grandes empreendimentos que estão a ocorrer na cidade...

Parece que recebi um certeiro e deprimente soco na boca do estômago.

Quer dizer que numa sala que reunia mais ou menos informalmente pessoas simpáticas a causa ambiental, a secretária do meio ambiente precisa desse argumento?
É só para isso que existimos? Garantir o interesse econômico? Todas nossas conversas e valores se pautam em quanto isso vai ser bom para os negócios. Esse é o único argumento lógico e plausível de qualquer discussão que se preste? Temos desesperadamente que aproveitar a oportunidade de recebermos a tal compensação?!

Bem, eu entendo que deve-se usar esse argumento numa conversa com um governador ignorante e alienado (ambientalmente falando). Mas, num evento de cunho ambiental?! Me parece um triste retrocesso. E me fez questionar a validade de tudo aquilo. Porque eu estava me sentindo tão idiota, e pq me parecia tudo tão inútil e desnecessário?! Acho que talvez seja porque quem tem o poder mesmo de decidir onde, como e porque serão as unidades de conservação e como será o uso do território não iria nem tomar conhecimento de tudo o que disséssemos. Ou porque é tudo inútil mesmo.

Cada vez mais tenho a sensação de que quanto mais se regula mais se atrapalha e se puxa pro lado do mais forte. E que se envolver nisso é alimentar esse processo. Afinal "a boa intenção é o pavimento da estrada para o inferno". Cada vez mais desacredito em toda e qualquer forma institucional de organizar uma sociedade. Não encontro em NENHUMA instituição algo que me faça acreditar.

Agências reguladoras, fiscais, investigação, ministério público, tantas e tantas coisas vamos criando para rotacionar envolta dos grandes empreendimentos. Os quais se tornaram nossa razão de existir. A razão do Estado e da população. Vivemos ao redor deles, para regulamentá-los, para controlá-los, para servirmos à eles e deles. Nisso se resume nossa rica existência. Os que não tem emprego morrem de fome, os que tem assistem sua degradação moral e espiritual porque são impelidos a trabalhar alucinadamente e acreditar que nisso reside toda sua dignidade, e há ainda o medo de não ter a sorte de ter esse emprego.

E não tem limites. Penso que agora que os ecossistemas marinhos estão detonados, isso é o estoque pesqueiro é cada vez menos viável, vai haver fim. Que nada, cria-se a aquacultura e privatiza-se os peixes. O mesmo com o sol, dado que a Espanha pretende multar os indivíduos que se aproveitarem do sol para diminuir sua conta elétrica. Quem se lembra que na Bolívia houve revolta quando o governo proibiu o uso de água da chuva? E quem sabe que o governo de São Paulo cobra a mais de quem usa água da chuva? É por causa do tratamento de esgoto! Mas, eu uso para regar o jardim... =/ Os solos ricos tem dono, aqueles que nunca pisaram em solo nenhum e estão se empenhando arduamente em deixá-los pobre. Tudo privatizado (mesmo que seja para o Estado, se não é público é privado) e quem não puder pagar vai ter o privilégio de viver de caridade, - ai que lindo, como são boas as almas que doam e não questionam, - ou farão o favor de morrer de fome. E claro, lembrando que os que morrem de fome, nesse minuto que eu escrevo, são vagabundos que só ficaram reclamando do sistema porque tem preguiça de trabalhar, e só reclamam porque tem inveja dos ricos... sim, eu li isso hoje...
Meus amigos, pelo amor de Cristo. olha e vê. que bosta de vida estamos levando? Queria que uma criatura me dissesse que está perfeitamente feliz fazendo o que faz e como faz! E vivendo na sociedade como está.

Não, não precisamos de unidades de conservação para ganharmos compensação das empresas. Precisamos porque se não passam por cima de tudo, aterram e impermeabilizam todos os banhados, e quando a cidade inundar varrendo barracos, virão oferecer um lindo sistema inovador de drenagem, com tecnologia alemã, para um problema que não teríamos! E esse sistema vai custar o dobro do preço devido desvios realizado por pessoas que são pagas para não desviar, e que são vigiadas por todo um intrincado esquema de agências e órgãos que buscam garantir que não se desvie e que haja processo caso desviem. E tudo isso com impostos?!

Para onde estamos caminhando? Para onde esse caminho está nos levando? Onde estão as árvores frutíferas que alimentam de graça, sem inflação?

segunda-feira, 22 de julho de 2013

o Discruso

Fiquei pensando... porque agora isso tudo? De manifestações?

- O povo está cansado.

Do que? De corrupção, injustiça, exploração e opressão? Tipo o que existe desde Sócrates?
Os motivos existem e justificam, mas não bastam. Penso que primeiro existem os protestos mundiais que nos inspiraram. Mas, simplificando para uma analise puramente nacional, penso que a junção de dois movimentos em um só se deve, nesse momento histórico, a dois fatos:

Quanto aos despolitizados, como eu, nossa ingenuidade de acreditar que somos livres para protestar. Que vivemos em um país lindamente livre e democrático, onde a voz do povo é a voz de Deus. Não vivemos em movimentos sociais para sabermos a opressão injusta e desumana que sofrem os que questionam aos gritos. Nós apenas acompanhávamos pela televisão o discurso de que a polícia só revida justamente, contra bandidos e desordeiros. Assim, não temos nada a temer!

Quanto aos politizados, acredito que se sentiram mais seguro no governo do PT, da Dilma. Seria muito incoerente mandar todo mundo preso, torturado, assassinado. E esses afinal gritam mesmo com medo, mesmo com risco, mesmo sozinhos.

E eis que estamos nessa encruzilhada, nessa pequena "guerra fria".
Vai cair a máscara e veremos o Estado tirano que existiu desde sempre? Que vem usando força militar para reprimir manifestantes colhidos aleatoriamente (veja esse vídeo).
ou
Irá assumir o discurso de que vivemos em uma sociedade livre e democrática? E aí veremos o novo e inusitado.

Vídeos disseminados pela internet colocam em cheque o discurso. E calar está se mostrando uma missão impossível, com todas as táticas não letais adotadas. O que me faz acreditar que em breve o Estado terá que ceder e buscar medidas reais e efetivas de acabar com a corrupção, injustiça, opre$$ão, exploração e por aí a fora.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

País em protesto!

E as manifestações seguem firmes e cheias de propósito!

Não que a mídia convencional dê muito destaque... Toda vez que ligo a TV no único canal que funciona na minha casa vejo novela, 15 minutos de explicação sobre maneiras de amarrar um lenço no pescoço, crimes bárbaros (que envolvem estupro e tortura de suspeitos inocentes), "nova" forma de corrupção (a vereadora foi eleita com dinheiro de traficantes, ineeeeédito) e por aí a fora. É interessante que quando a guriazinha Isabela foi jogada pela janela era praticamente impossível não se ouvir sobre isso, e o incêndio de Sta Maria? Com debates intermináveis... Mas, sobre brasileiros reivindicando aí não, seleciona-se um grupo de baderneiros nus (quanta falta de educação - ironia mode on), ou grupos que saqueiam lojas (aquelas uma que lucram os tubos cobrando 900 reais em calças produzidas com trabalho escravo e de modo extremamente poluentes). Com o destaque de que são grupos minoritários, e que os manifestantes conscientes e bem comportados jamais fariam esse tipo de coisa nojenta e repugnante!

No entanto, fuxiquenta e cheia de esperanças que sou, vou atrás de maiores informações. O face está mais pulverizado, desde que o anonymous ficou esquisitão não tem havido uma cobertura concentrada dos protestos.

Onde já se viu depredar a fonte de lucro de bilhões de reais
de uma empresa que se dedica anos à fazer nada?!

Mas, soube por um amigo que no ES também houveram pedágios queimados, como os de Campinas. Ei, antes de ficar em dúvida sobre seu apoio à atividades tão extremistas procure considerar que em São Paulo uma agência do governo encontrou um lucro indevido de 2.000.000.000 de reis num empresa de pedágio. Aliás, que empresa é essa? Tenho um pressentimento de que haja uma única empresa com diversos nomes lucrando no nosso país, digo isso, porque minha queridíssima ECOSUL, é italiana e também explora rodovias em São Paulo (sob o nome de ECOPISTAS na Ayrton Sena e Carvalho Pinto). Bom, se ainda consideras que atear fogo em cabine de pedágio é um crime horrendo e inaceitável, lembro que houve esse ano uma ação suspeita da ECOSUL indicando alguma troca de favores entre essa e o Estado, ao conseguir despachar uma intimação muito esquisita em 6 horas de seu escritório até "líderes" de um movimento sem líderes, e na presença da polícia federal numa rodovia estadual com a clara intenção de defender a todo custo (eles portavam maquininhas de choque! quase hilário se não fosse deprimente) o interesse da empresa. Ainda assim, segundo nossa mídia tradicional, atear fogo na coisa dos outros, mesmo que seja sua, é feio e não se faz, bando de vândalos. E os manifestantes conscientes repudiam esse tipo de atitude, pois eles consideram extremamente justo e honesto pagar pedágio e concordam que todas as pessoas do país tem condição financeira disso e as que não tem não deveriam sequer ter nascido então é bom que fiquem em casa/barraco mesmo, arrependidas de existir. E que se elas são atropeladas por estarem a pé ou de bicicleta isso é devido ao fato de que não obedecem a sinalização. Eles ainda acreditam que ninguém nunca tentou por meios legais questionar o valor e a existência de pedágios e que a diplomacia poderia resolver tudo #semviolencia. Portanto, atear fogo em pedágio jamais, que atitude de vandalismo mais inaceitável essa?!

Como pode haver pessoas nuas na casa do povo?
onde nosso mundo vai parar. um local marcado pela corrupção e injustiça social vira palco
da mais pura liberdade de expressão.
A câmara de vereadores de Porto Alegre ficou ocupada por OITO dias, houve um pedido de reintegração de posse que foi suspenso, houve reunião de vereadores em churrascaria com dinheiro público e houve inclusive fotos de ativistas nus. Adivinhem qual desses fatos teve notícia em site? Afinal não é concebível pessoas peladas! Isso jamais, não chegamos tão longe na nossa evolução civilizatória para simplesmente tirarmos a roupa num local tão respeitável. Lá, onde leis absurdas são votadas afim de favorecer um pequeno grupo de investidores em detrimento de toda sociedade, justo lá onde políticos se vendem e fazem discursos eloquentes recheados de mentiras, segundas intenções e interesses ocultos, lá onde é a casa do povo desde que não haja povo algum. Ficar pelado jamais! Haja o que houver jamais tire sua roupa! A não ser que seja para servir de objeto sexual numa revista machista, ai ok, pode e tá blza. Desculpe senhores vereadores e reacionários em geral, me sinto mal em acabar com qualquer fantasia, mas tenho quase certeza de que não houve suruba nessa manifestação. A ausência de roupas foi um protesto simbólico libertário. Mas, no meu ilustre jornaleco de uma grande e importante cidade que fica à 300 e poucos km da capital POA, nada foi dito. (???)
Não se iludam. Os pacíficos são heróis, e só querem o fim
da corrupção. Os que questionam os abismos da
desigualdade social são vândalos que espalham o terror
na nossa tão justa sociedade.
Desconfio que eles alimentam-se de crianças em seus jantares.

E mais recentemente, com poucas e esparsas noticias soube que o bicho continua superpegando no Rio.

"Cabral, chegou a hora, pega o Dudu enfia no cu e vai embora"!!! Ihihihihi!!!

Eu não sei exatamente qual é desse Cabral (afinal, além de ter sido educada de maneira alienante, sou obrigada a pensar que só existo para trabalhar e que me informar, me politizar e postar num blog é uma vadiagem vergonhosa), pelos videos que assisti o capeta, digo Cabral, vendeu a cidade às empreiteiras, passando por cima de tudo e todos, demolindo casas e desapropriando famílias, pobres, claro. Aquelas que não conseguem pagar pedágio e portanto não deveriam nem ter nascido (só que não). E pasmem, sobre isso saiu uma matéria no jornaleco local! Ahhh, entendi, as notícias daqui saem ali, a de lá vem pra cá e assim ninguém se entende e nem sabe o que tá pegando de verdade. E a notícia do jornaleco me deu clareza e bastante empatia às ações "vândalas e criminosas" realizadas. Pois a notícia do G1 está tão tendenciosa que me dói a barriga. No jornaleco daqui dizem que as lojas de grife foram quebradas saqueadas e as roupas (obviamente que não todas e nem foi uma ação ensaiada onde todos os milhares da manifestantes agem iguais como soldados ou robôs) foram entregues a meninos de rua, outras foram digamos usada numa incrível e subversiva "queima de estoque"! E detalhe, o "sem violência" agora tem uma resposta imediata "sem moralismo".

Em minha opinião, como deve ter dado pra notar ao longo do texto a manifestação deve ser sem violência à vida, como vem sendo desde sempre, ao contrário de muitas ações políticas e comerciais, que literalmente matam diariamente as pessoas, inclusive de fome, afinal o alimento produzido hoje no mundo seria capaz de alimentar 12 bilhões de pessoas, mas a cada 5 segundos uma criança de menos de 10 anos morre de fome. é o que se denomina geopolítica da fome. Algo que não vai mudar sem ações enérgicas. Claro que em nenhum momento os manifestantes questionaram diretamente a questão da fome, e se o fizeram não foi manchete, afinal a mídia escolhe muito bem quem vai ser considerado herói na história. Mas, a destruição de bancos e estabelecimentos comerciais significa sim muita coisa, e para mim essa "coisa" não corrobora com a visão de que seja um bando (termo usado no site do jornal hoje) de baderneiros. Unicamente pelo fato de escolha da depredação. Não foi casa alheia (como faz o governo e empreiteiros), não foi espaço público, foram bancos e lojas de grife, ocupação (SEM DEPREDAÇÃO) de órgãos públicos e rua do capeta, digo governador. PONTO. Se esse "recado" não está claro o bastante eu não sei mais o que pode ser.

Ps.: Se alguém tiver uma fonte legal, tipo um blog, sobre os protestos do Rio e outra capitais peço encarecidamente que compartilhe.
um canal do youtube que gosto é esse:
http://www.youtube.com/watch?v=UeQS09JXjbY


quinta-feira, 18 de julho de 2013

a solução do "além"

Preciso confessar algo mui estranho e que faz com que eu perca toda a minha pouca credibilidade científica! Eu acredito que somos dominados por forças ocultas, mas que seu poder está chegando ao fim... Parece uma alucinada loucura conspiratória, sim eu sei. Mas, faz um tempo que venho seguindo um blog, sim não é uma fonte científica e confiável, mas o jornal é?! A própria ciência é tão confiável? Mais do que o que eu sinto?! Creio que não. E vou tentar explicar o que tenho vivido nesse raminho da minha vida.

Esse blog Sementes das Estrelas posta diariamente muitas mensagens bonitas e incentivadoras. Eu vinha lendo alguns meses com esse propósito, de elevar meu espírito. Eu lia, que bonitinho, me sentia animada e partia para a pesquisa do mestrado mais feliz e inspirada. Pois acontece que justamente quando meu mestrado começa a me puxar para uma Évellin Keith mais politizada, e meu foco de atividade extra-curricular passa de espiritualidade para política. Justiça ambiental, anarquismo e esses temas dos quais sempre fui totalmente alheia passam a ser meu hobbie, me tornei feminista e protetora dos fracos e oprimidos. Aí então, passei a buscar a política na espiritualidade, e adivinhem só?! Todos os ensinamentos espirituais que leio são políticos, e de esquerda! Existe algo mais anarquista que o evangelho?! Creio que não, e novamente devo citar a melhor obra que já li "O Reino de Deus está em Vos" de Tolstói. Agora para saber como a Igreja consegue ensinar o evangelho e acumular riqueza, temos que ter claro que ela não ensina. Tá, mas essa discussão eu gostaria de trazer num post só sobre isso. Voltemos à minha fé na aproximação de um nova era!

Eis que com meu olhar mais politizado começo a reparar que o blog passa a trazer mensagens de cunho político! Inclusive citando claramente acontecimentos como o do Egito e sobre as manifestações em todo o mundo. Claro que pode ser mentira, como tudo na vida pode ser mentira. Assim, podemos escolher no que acreditar, e nem sempre acreditar na opinião pública é o melhor caminho. As postagens pareciam coerentes, bem escritas e lógicas. E o mais legal, diziam que a corrupção e crimes serão trazidos a luz, é bem verdade que desde sempre a TV divulga escândalos e descobertas de crimes e tals, mas agora ao ver isso eu esboço um sorrisinho esperançoso. Como quando o papa declarou "guerra" à corrupção no vaticano \o/

Outro fator que me anima a crença nessa nova era, é que minhas diferentes fontes de pesquisa espiritual apontam que estamos em fase de "transição", para o espiritismo passaremos de planeta de provas e expiações para um mundo de regeneração, para outros estamos passando da era de peixes para de aquário. E eu sinto que essa galera nas ruas de todo o mundo, muito mais do que o veiculado pela mídia (aliás, vocês não estão sabendo que a câmara de POA está a mais de uma semana ocupada, não é mesmo?!) é um efeito tão espiritual quanto político.



Enfim, eu e minha tendência de espiritualizar as coisas creio que valha a pena dar uma fuçadinha no site http://prepareforchange.net/. E viver essa mudança, isto é buscarmos manifestar nossa criatividade, liberdade, plenitude e fortificar nosso caráter!

segunda-feira, 15 de julho de 2013

uma anarquia

É engraçado como algumas coisas tão banais nos convidam a reflexões mais profundas.

Ontem estava no meu quarto lendo o melhor livro do mundo (O reino de Deus está em vós - Tolstói). Quando ouço um roc-roc vindo da sala. Na hora já imaginei que fosse meu cachorro mais gorduchinho, o Jacques, comendo a caixinha de bis que havíamos deixado no sofá. Pois eu me lembro de ter deixado um chocolate uma vez no sofá que sumiu misteriosamente, além disso mesmo sem ele "nunca" ter comido chocolate quando ele sente que estamos comendo fica maluco pedindo. Assim, sai do quarto já pronta para dar uma ralhada nele, seria uma bronca surpreendente e enérgica da qual ele jamais esqueceria.

Caminhando bem silenciosamente para dar o flagrante, saio do quarto, passo pelo outro cachorro, o Gurila que finge não estar sabendo de nada. E quando olho para o sofá, lá está ele! O cachorro gorduchinho se deliciando. A cena é tão cômica que quando abro a boca, pensando que vai sair um grito raivoso, como seria de se esperar, sai uma gargalhada interminável... a qual apaga da minha mente a imagem de mim mesma com uma mão na cintura e outra apontado para a fuça dele, gritando argumentos irrefutáveis capazes de fazer qualquer ser vivo se sentir envergonhado, humilhado, frustrado e desamparado.

É interessante pensar que a primeira atitude que me veio na cabeça nada mais foi do que um modo de reproduzir um padrão de comportamento. Depois eu fiquei pensando em todos os argumentos que endossariam uma bronca. O alimento faz mal, dá dor de barriga, e cáries. Exatamente os mesmos efeitos que tem sobre mim! Porque eu poderia comê-lo mas meu mascote não? Porque a medicina canina é menos desenvolvida? Porque ele não escova os dentes? Todos esses argumentos são válidos, mas nenhum justifica uma bronca enérgica no meu amigão do qual sou responsável pelo bem estar. O adequado seria que eu parasse de comer alimentos assim ou que cuidasse para quando comesse tirasse do alcance dele. Afinal o bis que ele havia comido já estava lá dentro, no máximo eu poderia presenteá-lo com uma congestão.

Penso ainda o quão anarquista não foi essa minha atitude de abrir mão da minha autoridade opressora. Anarquia! Palavrinha tão mal empregada que faria com que muitas pessoas julgassem que a anarquia da cena consiste no "cachorro roubando chocolate encima do sofá", uma bagunça!...

Muitos podem achar desumano comparar animais com seres humanos, mas eu creio que essa cena pode representar uma sociedade. Na qual alguns não tem condição de satisfazer suas vontades, e os que tem essa condição não compartilham, apenas acumulam e exibem. E se essa linha (posse) é cruzada existe punição e repressão. Onde poderia haver o riso fácil dos que amam, onde poderia haver uma reflexão autocrítica.

Nenhum crime se justifica, assim como nenhuma ostentação num mundo de fome e miséria.

O ego emburrece

Me lembro que tinha verdadeiro pânico de falar em público, ainda sinto desconforto, mas não é mais tão apavorante. O que deve ter ajudado, entre outras coisas, foi que leio o jornalzinho local em voz alta para o Thiago enquanto ele dirige para universidade. Peguei gosto e confiança de ler alto.

Num grupo de estudos a facilitadora disse que cada um teria que ler um trecho do livro. E eu fiquei prestando atenção ao que o colega dizia! Me surpreendi! (e deixei de prestar atenção por uns segundos para pensar) Na minha adolescência o pânico de ter que ler em público me deixava cega e surda, e burra! Não conseguia prestar atenção em mais nada, meu coração batia forte, e tinha que me concentrar simplesmente em não ter um piripaque. Achava eu que isso era timidez, insegurança. Agora penso que são nomes distintos de um mesmo mal, o ego.



O fato de me preocupar mais com meu "desempenho" do que com o conteúdo estudado revela muita coisa. O ego tem o poder de emburrecer. Há quem entre numa discussão para apresentar os melhores argumentos da maneira mais eloquente e persuasiva, só para "vencer" e não para crescer, para aumentar seu conhecimento, compartilhar informação, criar junto. Mesmo inconscientemente essa "cegueira" pode se apropriar de nós e nesse instante deixamos de ver tudo ao redor, preocupados apenas com nosso desempenho. Nos habituamos a viver nesse mundo egóico, incentivados por aparelhos pessoais que nos desligam do mundo real e alimentam apenas nosso ego.

Vidrados nesse novo mundo virtual, dinâmico e onde podemos selecionar ver só o que nos interessa não nos damos conta das cores do dia, se esse ano foi mais quente, se aquele prédio de 20 andares na beira da praia está tapando o sol do bairro inteiro e está contrariando o plano municipal, não percebemos que as ruas são feias cada vez mais cheias de carros, que as pessoas tem feições tristes, cansadas e mal humoradas, não notamos que o arroio foi retilinizado, canalizado e que por cima dele agora há uma rodovia asfaltada e que os pescadores que viviam dele agora tem empregos desgastantes e desagradáveis e compram seus peixes contaminados em supermercados de capital estrangeiro. Não vivemos os momentos, apenas enfeitamos eles com sorrisos e maquiagens para postar no facebook e contar quantas curtidas conseguimos. E para isso tem-se filhos, para serem os mais fofos bebês a receberem as curtidas em nossas páginas sociais.

Se alguém comenta de um livro fingimos não ouvir, não por desinteresse genuíno, mas por medo de demonstrar qualquer sinal de ignorância e sermos mal julgados. Afinal, com tantas distrações que enchem nossos egos nos tornamos burros, muito burros ou alienados, como quiserem. E esse mesmo ego nos impede de reconhecer tal burrice. Tenho a impressão de que muitos pesquisadores morrem de medo que encontrem os possíveis erros de suas pesquisas, quando na verdade deveria expor todas as suas dúvidas e inseguranças afim de sana-las e assim deixar para academia um trabalho de qualidade.

O mesmo ocorre no importante campo da política. Parlamentares votam leis e projetos, se candidatam e bolam planos mirabolantes para reeleição com o intuito de obedecer seu ego. Artistas não buscam muito além de alimentar seu ego. E esse modo de agir, ser e pensar, incentivado e reproduzido incessantemente vem atrapalhando o progresso da humanidade e as realizações pessoais de cada indivíduo.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

subjetividade objetiva

Quando ouvindo uma aula especial de Educação Ambiental crítica, algo me cativou. A conversa tem que ser objetiva, esse papo de querer "paz e amor" é chavão hippie da década de 70 e não convence. Tem-se que trazer esse desejo para uma discussão objetiva, dizia o professor. E assim ia a conversa que me deixava deveras encantada. Imaginei que assim, dotada de argumentos lógicos e racionais seria possível falar a mesma língua daqueles que estão pouco se importando com qualquer coisa além de seu patrimônio pessoal.

Fiquei com isso martelando na minha cabecinha, e sempre que sentia que meus argumentos começavam a descolar para a "subjetividade" me castrava rapidamente em perfeita obediência as palavras eloquentes do experiente e renomado professor.

Mas, algumas notícias me deixaram inquieta nessa nublada manhã invernal. O suicídio é a causa de quase metade das mortes entre jovens de 20 à 29 anos, na desenvolvida, rica e bem educada nação japonesa (link). E como a nação está lidando com esse dado? Money!

Técnicos associaram as mortes ao desemprego, ou medo de perder o emprego (!). O que é um motivo bastante frio e objetivo. E as medidas frias e objetivas adotadas para prevenção foram: controlar a taxa de desemprego, que atualmente é menor que 4,3% e fornecer "bolsas"-auxílio-tratamento-psiquiátrico.

E se você está pensando que esse "probleminha" é exclusividade única de países de alta latitude, distantes da alegria do clima tropical, saiba que na pátria amada Brasil a taxa de suicídio entra jovens e adolescentes cresceu 30% nos últimos 25 anos. E o país vem lidando muito bem com o assunto adotando uma excelente política de "fingir que nada aconteceu" evitando inclusive a utilização do termo que é alterado para "mortes por lesão autoprovocadas voluntariamente", isso porque, acredita-se que a simples menção na palavra suicídio pode incentivar a ação. Assim, o tema é um tabu, apesar de alguns especialista acreditarem que falar no assunto seria mais inteligente, pois auxilia na prevenção. Tamanha a ignorância.

Segundo a CVV numa sala com 30 pessoas 5 delas já pensaram em suicídio. E por que?

Os especialistas do Japão que me perdoem, mas acho que uma atitude assim não esteja simplesmente relacionado ao mercado de trabalho, por mais lógico e coerente que esse argumento possa parecer. A insatisfação com os padrões estabelecidos superam o limite da razão, esses números são estarrecedores e merecem atenção especial. Cada vítima deve ter tido lá suas razões, temos uma razão a cada 40 segundos. Eu penso que isso seja a prova objetiva da ausência do desenvolvimento de questões subjetivas.

Imagine se o simples medo de perder o emprego faria um jovem considerar melhor o sofrimento e a incerteza da morte. Isso é uma medida absurdamente extrema que deve ser olhada com especial atenção, e aqui nenhuma frieza vinda da analise objetiva de números e gráficos é capaz de entender e resolver o problema.

Acho que temas subjetivos e filosóficos devem ser considerados sim, sem medo, sem preconceito, com respeito e seriedade. Deve avançar na conversa da felicidade. O FIB no lugar do PIB. Até eu tenho medo de dizer, mas acredito que pessoas felizes trabalham melhor do que pessoas bem pagas. Quando a felicidade verdadeira for a aspiração master de todos os seres humanos, quando compreendermos o que é felicidade e comprovarmos que desviar verba da escola de jardim de infância da periferia não traz felicidade, talvez essas atitudes sejam desincentivadas. Mas enquanto não soubermos definir felicidade e enquanto o avançar dessa discussão seja relegado a poucos corajosos que taxamos de vagabundos e desocupados, estaremos sempre meio perdidões. É bem verdade que o risco de esse conceito ser utilizado num discurso vazio é grande, mas mesmo os atuais discursos objetivos, cheios de dados técnicos são conversa para boi dormir...

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Conveniente urgência mineral...

Ao que parece, todas as medidas e conversas lógicas das pessoas importantes tem, necessária e obrigatoriamente que envolver, não apenas economia como, crescimento econômico. No entanto, temos que reconhecer que para todo e qualquer crescimento existe um limite, e doa a quem doer, parecemos estar vivendo exatamente o limite do nosso crescimento econômico. Como governar num tempo como esse? Como mudar quando tudo o que se aprendeu foi seguir receitas de bolo, e toda a lógica e coerência solidificada nos impedem de cogitar qualquer aspiração que não envolva o crescimento econômico? Tanto individual quanto social.

É preciso coragem, e essa é uma virtude de poucos, menos do que imaginamos. Vivemos tempo de mudança e negar esse fato parece deixar nosso futuro mais nebuloso e nos distanciar da resolução de conflitos.

Estamos nas ruas, cada um com seu pensamento, mas todos nos demos conta de que esse padrão econômico, que guia a política, não está mais nos beneficiando. E o que faz quem está no poder? intensifica o mesmo padrão que estamos questionando, o mesmo padrão insustentável. Pensando que assim proverá estabilidade e segurança, isso é adiará infinitamente as inevitáveis e necessárias mudanças de paradigma.

Vamos falar do que não está sendo muito debatido nos cartazes, o novo código da mineração. Que, pelo que entendi, vem sendo discutido desde 2009 entre empresários e governo (desconsiderando todo movimento popular, e isso no governo do PT). Para que lado imaginamos que a conversa tende?

Com as manifestações nas ruas, invés da lógica ser "ei, pera aí, a população quer participar, quer ser ouvida, clama por justiça", nossa representante pensa:
"Em um momento de tanta turbulência econômica e social, é importante que o Brasil se apresente como uma nação estável -não apenas sob o ponto de vista econômico, mas também político e jurídico, onde os contratos são respeitados, mantendo a ideia de que vale a pena investir."

Minha nossa. E com isso abre urgência na votação do novo código. Sim, afinal quando todos estamos nas ruas clamando por termos nossas necessidades ouvidas e consideradas, nada mais urgente do que se votar o código da mineração! Essa urgência repentina impede movimentos sociais e ONGs (que foram excluídas de todo processo de elaboração) estudem, conheçam, e entendam as entrelinhas do código e se capacitem para propor emendas, elas tiveram 13 dias para isso (de 21 de jun até hoje, 03 de julho), e exatamente os 13 dias de intensa movimentação popular (!)

E o mais interessante, é que as matérias de jornais, que linkei abaixo, dão a entender que o novo código pode prejudicar os mineradores, e deusolivre que eles resolvam partir levando o importantíssimo invetimento que nos dão razão de existir, sem o qual, pobre de nós, nada somos, nada podemos. Na matéria do Estadão tive a sensação de que a atividade será mais taxada, mas que essa alíquota pode ser mudada depois... e que haverá a criação de uma Agência, tipo ANP para "regular" a mineração.

Mineração de urânio em Caetité - BA, fonte de contaminação radioativa.
Estamos falando de uma das atividades mais impactantes, social e ambientalmente. E que não apenas gera um passivo absurdo no local em que ocorre como ao longo de toda cadeia de produção. A exportação de minério bruto é tão absurda que me dá calafrios só de pensar que ainda ocorre, todo o ônus fica conosco. Um estudo realizado no Uruguai identificou que a atividade de mineração que foi aceita visando a criação de emprego deixou mais pessoas desempregadas, ao venderem pequenas propriedades das quais dependiam para agricultura familiar. A mão de obra empregada na atividade mineradora é pouca, e as condições de trabalho são ásperas, em Caetité os empregados trabalhavam com material radioativo sem proteção, ou instrução.

Links:
http://www.justicanostrilhos.org/nota/1241#comment-416796
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/06/1297405-analise-mina-podia-ser-explorada-ate-o-fim-da-sua-vida-util.shtml
http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-brasil,novo-codigo-de-mineracao-nao-vai-afugentar-investidor-diz-lobao,157977,0.htm

E ainda, vale dar uma conferida nessa canção:
http://www.youtube.com/watch?v=2F-ZYs2NlYU#at=455