sábado, 8 de junho de 2013

opressão do capital

Estou simplesmente embasbacada! Ano passado, quando houve a morte de um ciclista na rodovia da minha cidade, essa um com uma quantidade absurda de mortes por atropelamento, eu participei de uma manifestação. Fechamos a estrada, com a presença suave da polícia rodoviária, e entregamos panfletos, informando a razão do nosso protesto. Alguns motoristas ficaram chateados, mas a maioria compreendeu. Acendemos velas, mentalizei uma prece. Penduramos a tenebrosa bicicleta-fantasma.

A partir de então passei a me envolver mais com o movimento. Entrei na página do facebook, e fui nas passeatas. Nessas passeatas não fechávamos de todo a pista, simplesmente nos reuníamos e pedalávamos por um trecho da estrada. Claro, o transito ficava lento, e alguns motorista buzinavam e reclamavam, são desses que tenho profunda pena. A maioria dos motoristas apoiavam, alguns não conseguiam entender que se tratava de um protesto.

Há três semanas morreu mais um ciclista, da minha idade. Foi atropelamento às 18hs de um dia extremamente frio, por um ônibus. A pancada foi tão forte que demoraram para achar o corpo. Fiquei sabendo que ele recém tinha comprado a bicicleta e usava para ir ao trabalho.

Nossa estrada não tem acostamento calçado, no trecho que aconteceu o acidente, não existe a possibilidade de trafegar fora da pista. É um absurdo. A estrada sempre (desde 2007 quando a conheci) foi usada por carroceiros, que não tem mais a possibilidade de andar nela. A duplicação foi feita claramente visando unica e exclusivamente (acrescentaria porcamente) aos carros. O ponto de ônibus é na verdade uma vaga, curta, e tem um telhadinho de alumínio. Não existem passarelas mesmo em trechos muito atravessados, existem no máximo faixas de pedestres e um sinal piscante (num bairro que muito cobra).

Quando propuseram fazer mais uma passeata e prender a bike-fantasma, eu questionei "mas, não tem adiantado nada isso", afinal, os motoristas que são os mais afetados já estão cientes do problema e não podem (ou sabem como) fazer muita coisa. Foi quando surgiu a ideia de nos juntarmos com o pessoal da outra rodovia, que corta essa e em média ceifa uma vida por mês, para fazermos um megaprotesto, começaríamos abrindo as catracas do pedágio, e depois fechando vários pontos das estradas e terminaríamos por pendurar a bike-fantasma. Beleza. Espalhamos cartazes pelo facebook e pela cidade.

Até que hoje, fiquei sabendo que a empresa de pedágio, ECOSUL, mandou uma intimação para os que ela julgava serem líderes do movimento, impedindo-os de realizar qualquer atividade na rodovia ou praça de pedágio, e inclusive responderiam por seus liderados, com um multa de 10.000 reais por cada líder, para cada infração!!!!

Acho que cabe um abre aspas para dizer que essa querida empresa prorrogou sua licitação por mais vinte anos de maneira ainda não muito clara...

Alguns dos membros deram razão à empresa, uma vez que estaríamos interferindo no patrimônio de terceiros, e que causaríamos transtorno aos motoristas e a liberdade de um termina quando começa a do outro. Imagino que o juiz que assinou essa intimação devesse estar preocupado com o livre fluir dos caminhões de soja que transitam nessa época do ano.

Bem, esse "patrimônio de terceiros" na minha opinião não merece o menor respeito. É uma estrada perigosa, que o estado está duplicando, e a empresa de pedágio só fica com o lucro. Quanto essa parada da liberdade que termina aqui ou ali, eu fico com a posição do sr Freire de que liberdade se constrói juntos.

Ainda assim, haverá manifestação, a princípio sem "ocupar o leito da rodovia". Uma manifestação dupla, implorando por segurança na estrada e opção de um método realmente público de locomoção, e repudiando qualquer forma de censura sobre um povo historicamente calado e nada participativo.

Esse caso nos diz muita coisa. Para começar a obra de duplicação, que ao explicitamente favorecer apenas automóveis aponta nossa submissão às montadoras, e descaso total com pessoas que não possam (ou queiram) usar carro, o ônibus é desagradável muitas vezes lotado, os pontos são totalmente desabrigados, atravessar a rodovia é um risco considerável, e não existe a menor possibilidade de se locomover com outro meio de transporte e esperar chegar vivo.
Outro ponto, a maior repercussão foi ter ameaçado parte do lucro de uma empresa privada. A qual, endossada pelo estado, basicamente proibiu e censurou a manifestação. Prevendo inclusive as multas (!)

Não sei se conseguem sentir tanta indignação quanto eu. Pessoas morrem CONSTANTEMENTE nessa rodovia. E as ações são sempre no sentido de aumentar o fluxo para caber mais carros. Justamente nesses tempos, que estamos exaustos de clamar por novas fontes de energia, novos padrões de consumo, ambientalmente sustentáveis e socialmente justos.

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