quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Artigo: Por que querer uma ciclovia?

Foi com muita emoção que na segunda feira vi meu nome escrito no jornal! Não na página policial, claro. Foi um artigo que enviei ao jornal local. Vou dizer um pouco da "história" do artigo:

Em 2007 quando nos mudamos para Rio Grande eu e meu namo ficamos impressionados com o potencial da cidade para a utilização de bicicleta como meio de transporte. É tudo plano! Claro, viemos a descobrir que por vezes o vento forte exerce o papel de "subida". De nosso bairro até a faculdade existe apenas 15Km de uma enorme estrada. Fizemos o trajeto de bicicleta e apesar de demorar tanto quanto de ônibus, a aventura pareceu meio arriscada, isso porque não existe acostamento em diversos trechos e nos trechos em que existe não é calçado, o movimento de carro e ônibus é intenso. Apesar de o art. 201 do código de trânsito exigir que os carros ultrapassem ciclistas à uma distância mínima de 1,5 m  (link) nunca vi alguém obedecer.

 A coisa ficou ainda pior quando duplicaram a rodovia. Sim, pior (!) Pois, não houve a menor consideração com qualquer outro meio de transporte que não os carros particulares. Imaginem que ao lado da estrada colocaram guias, como em ruas!!! E os pontos de ônibus tem um recuo menor do que uma vaga, assim estes tem que usar a rodovia para frear e acelerar. O símbolo máximo do absurdo é representado pela placa do "ciclista voador". Colocaram uma placa pedindo para que o ciclista se mantivesse à direita... sobre a guia ou no mato, não conseguimos entender muito bem (ps.: a placa foi sorrateiramente retirarada para a temporada de veraneio).

Acidente fatal na RS-734 provoca manifestação.
Em agosto de 2012 o inevitável aconteceu e um ciclista foi atropelado e faleceu. Organizou-se através das redes sociais uma manifestação (link 1link 2), da qual eu e meu namorado participamos. Paramos a rodovia, acendemos velas, pintou-se o asfalto, distribuiu-se folhetos (link) e prendeu-se a "bike fantasma" triste. Alguns dos motoristas se mostraram impacientes, mas a maioria apoiou a manifestação.

A partir de então, o movimento ganhou força. Embora a petição não tenha alcançado 2.000 assinaturas. E a partir de então, no último domingo do mês, cidadãos simpáticos a causa se reúnem e fecham uma faixa da rodovia para fazer uma manifestação pacífica na forma de passeio. Na primeira manifestação muitas pessoas se reuniram, mas o retorno obtido pelas autoridades foi pouco e o movimento foi perdendo um pouco a força. Vou ressaltar que em todas as manifestações a polícia rodoviária esteve presente, podando um pouco o alcance do impacto, e sempre se mostrando bastante confusa quando a resposta para a pergunta "quem é o responsável, quem está liderando o movimento?" era um simples, e as vezes seco "ninguém!".

Primeira pedalada Massa Crítica e placa do "ciclista voador"
Ao ler um post no blog do Wagner Passos (RS-734 A estrada do ciclista voador - link) me empolguei e mandei diveeersos e-mails. A um deles obtive resposta, o deputado Adilson Troca ligou no meu celular dizendo que estava lutando por essa causa, que ele havia se articulado e conseguido o financiamento com o Banco Mundial para ciclovia do Cassino até o Bolaxa e que estava buscando meios e contatos de conquistar uma ciclovia por toda a estrada.

Eu não consegui dizer muita coisa, uma vez que ele falava bastante e eu ainda estava tentando realizar o fato de ter recebido uma ligação de um deputado. Mas, quando desliguei o telefone, pensei que o texto estava convincente e decidi mandá-lo para o jornal. Alterei algumas coisas, no e-mail eu citava votos e apelava para o ocorrido em Sta Maria, numa tentativa de dizer "ei, também somos universitários, podem nos dar atenção e prevenir que morramos atropelados". Achei que para o jornal não precisaria dessa parte, uma vez que o mais preocupante para mim são os trabalhadores que não tem outra opção de meio de transporte, e a intenção era despertar a comunidade para a necessária "revolução da sustentabilidade" (citando o livro Limites do Crescimento).

Por fim, me concentrei em 3 argumentos que considero o mais importante ao sair de casa e reivindicar por ciclovia:
1º) justiça social (é um meio de transporte barato);
2º) meio ambiente (o impacto ambiental é muito baixo, se concentra na extração de matéria prima e descarte de peças, que possuem longa vida) e;
3º) saúde e bem estar (exercício físico consiste em medicina preventiva).
No final o texto ficou assim:

Por que querer uma ciclovia?

 Évellin Keith*

A reivindicação por uma ciclovia na rodovia RS-734 já culminou em diversas manifestações, muitas das quais eu participei. No entanto, muitas pessoas não conseguiram entender porque consideramos tão necessária uma ciclovia (embora um acostamento já ajudaria). Bom, cada um dos manifestantes possui sua própria necessidade e argumentação, tentarei nesse breve espaço trazer o que me motiva.
 Apesar do crescente movimento na rodovia, poucos são os que podem (ou querem) possuir um veículo próprio. O transporte público além de desagradável, demorado e limitado, não pode ser pago por certos cidadãos. Eu me sinto muito mal em realizar alguma atividade sabendo que outras pessoas não podem contar com a mesma sorte. Ademais, a indústria automobilística, e mesmo o funcionamento de empresa de ônibus, são atividades concentradoras de renda. Aqui temos uma motivação referente à justiça social.
 Já se torna consenso de todos a preocupação com o meio ambiente. Combustíveis fósseis é uma fonte de energia limitada e não renovável, deveríamos utilizá-lo com muita cautela em atividades mais nobres, além de causarem poluição atmosférica em sua combustão, que por sua vez passa ao solo e à água, e outros impactos ao longo de sua cadeia produtiva (extração, refino, transporte). A fabricação de veículos também gera enorme impacto ambiental, como através da mineração, e produção de efluentes químicos.
 Gostaria de acrescentar mais um argumento, que se refere à saúde, não apenas na diminuição da poluição atmosférica, mas em relação à atividade física. Sabemos o benefício do esporte na prevenção de diversas doenças físicas (principalmente relacionadas ao sistema circulatório) e psicológicas (através da liberação de endorfina, sentimento de liberdade, independência e empoderamento). Muitos não podem pagar academia, dos que podem tantos não querem ou não tem tempo, a educação (no que diz respeito a acesso a informação e capacidade cognitiva) não chega a todos, e muitas pessoas carentes não reconhecem a importância da atividade física na saúde, mas, estes reconhecem a praticidade e economia de se locomover de bicicleta!
No entanto, atualmente, pedalar em uma estrada (ou seria avenida?) como a RS-734 é praticamente impossível. Já houve acidentes fatais sem que nenhuma medida fosse tomada. Muitos universitários se arriscam diariamente na rodovia, e inúmeros anseiam pela possibilidade de se locomoverem como exige sua consciência.
 Abraçar a causa e brigar por uma ciclovia vai muito além de proporcionar bem estar e lazer a população. Tal causa vai de encontro à sustentabilidade ambiental, inclusão social, melhora a saúde pública de maneira preventiva. A bicicleta representa de maneira simples e humilde essa revolução da sustentabilidade, não apenas por vontade, mas por necessidade de uma geração que atinge os limites da capacidade de suporte do planeta. Prepare sua magrela e venha fazer parte desse grupo de pessoas que acredita em um Rio Grande mais humano. Maiores informações: massacriticarg.wordpress.com
*Integrante do Massa Crítica Rio Grande

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Vegetarianismo: dicas nutricionais

Nas férias em São Paulo, depois de receber diversas repreensões quanto ao meu novo hábito alimentar, tomei uma ótima decisão: me informar!

E fuxicando em uma das enormes livrarias encontrei um simpático e curto livro de capa verde "virei vegetariano, e agora?". O autor é um médico com pós em nutrição em universidade conceituada. Eba, era tudo o que eu precisava.

O livro todo é fantástico, parece um bate-papo, com o plus de trazer informações embasadas na ciência. O legal é a sensação de "uau, eu não sou uma aberração da natureza. existem pessoas que entendem, respeitam e apoiam os meus ideais." Claro, eu tenho a sorte de conviver com uma pessoa que entende, respeita e apoia meu ideal e hábito alimentar, mas não domina o assunto, por isso o livro me cativou e fez com que eu o devorasse.

Um dos motivos que me fez buscar informações confiáveis sobre vegetarianismo, foi o fato de minha irmã se mostrar extremamente preocupada comigo. Ela sempre se posicionou contra o vegetarianismo (o que é algo que não me faz o menor sentido, como alguém pode ser contra a um hábito absolutamente inofensivo?) e eu sempre a favor. Agora que eu havia me assumido vegetariana (leia-se ovolactovegetariana), o assunto ficou ainda mais sério e delicado. No quarto numa conversa íntima ela buscava me alertar, contando casos de mães que perdiam bebês por causa disso (eu preferi não informar que não pretendo ter bebê pela próxima década), me contou o caso de uma amiga pessoal dela que se tornou vegetariana e depois de alguns anos apresentou uma doença gravíssima, quase morreu, e que agora alerta todos os aspirantes a vegetarianos a não serem! Puxa vida, nesse caso, começo a me assustar. Pedi o e-mail da amiga e fui em busca de informação.

Eu sempre pensei, "mas que coisa, existem tantos indianos hindus, que vivem num dieta vegetariana". O próprio Gandhi (que agora na autobiografia vim a saber que viveu décadas como frugívoro - comendo apenas frutas e oleaginosas, 5 tipos por dia, para não causar problemas para seus anfitriões!). 

Eis que descubro no livro que ninguém morre nem fica doente por se tornar vegetariano. Pelo contrário, como se diminui consideravelmente a ingestão de gordura, reduz o nível de colesterol no sangue e pressão arterial, ocasionando a diminuição na propensão de doenças cardiovasculares (entre 20 e 30%); diminui o risco de apresentar diabetes; pedra na vesícula; câncer de próstata; câncer de intestino grosso (isso baseado em estudos científicos!). No livro não diz nada a respeito, mas eu particularmente me senti mais disposta e principalmente, reparei mudanças no meu humor, percebi menor tendência à irritação.

A melhor parte do livro foi dica para montar uma refeição equilibrada:
25% - hortaliça;
25% - cereal integral;
50% - ricos em proteína;
e uma fruta!
Perfect! Assim fica muito fácil monitorar uma dieta adequada. Um dos mitos que rondam os vegetarianos se refere à absorção de Ferro. Isso porque, o ferro presente na carne é o ferro heme, de fácil absorção, os vegetais possuem ferro não-heme, esse para ser adequadamente absorvido pelo organismo precisa da presença da vitamina C.

Quanto a vitamina B12, no meu caso não é problema, pois ainda ingiro leite e ovos. Fiquei um pouco assustada que veganos devem usar suplementos na veia dessa vitamina. Lendo a um outro artigo fui entender melhor o que acontece. Essa vitamina é sintetizada por uma certa bactéria, e animais costumam ter hábitos pouco higiênicos, eles lambem o rabo do outro, lambem o corpo, tomam água sem tratamento e acabam por ingerir a tal vitamina. Achei interessante, pois muda de figura não são os veganos que tem um hábito alimentar pouco natural, são nossos hábitos que estão menos naturais. Aliás, no livro do Gandhi ele não comenta nada de tomar suplementos de vitamina B12. 

E por fim, não posso deixar de dizer que mandei um e-mail para aquela amiga da minha irmã. Que me respondeu que de fato ela havia parado de comer carne, e no lugar das refeições comia doces... Mas, assim que normalizarem os níveis de nutrientes no sangue vai voltar a praticar o vegetarianismo, com um atenção especial!

Saiba mais: http://www.alimentacaosemcarne.com.br/

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Políticas públicas, mais políticas do que públicas

É engraçado essa história de política. Quanto mais eu sei menos me faz sentido, exatamente como com a economia...
Me lembro que quando fazia estágio no porto surgiu um papo de revitalizar os molhes (uma vez que é jurisdição do porto), então bolou-se estratégias, estudou a disposição de lixeiras em intervalos adequados, placas, etc. O tempo foi passando e o assunto ficou por isso mesmo.
Até que ontem, numa conversa informal um amigo comentou:
- Nós fomos nos molhes esses dias, está limpíssimo, tem lixeiras, os vagoneteiros estão com velas iguais, está ótimo, afinal é o principal ponto turístico da cidade. Pra tu ver, né, esse prefeito mal entrou e já fez essa renovação.
Eu expliquei a ele que trata-se de uma ação de nível estadual, o qual esperou para que a prefeitura fosse do mesmo partido para então realizar essa ação. Imagino quantos outros projetos bons e importantes não são engavetados de maneira oportunista. Esse tipo de ação não é particular deste partido, certamente ocorre com todos. E mostra como é falho nosso sistema político.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Documentário The Cove

Nesse sábado, eu e meu namorado assistimos ao documentário The Cove, de 2009. O vídeo é tão chocante e profundo, que chorei em alguns trechos, quase vomitei em outros e no final ficamos congelados vendo as letrinhas subirem. Sem dizer uma palavra fiquei esperando que meu estômago se desembrulhasse...

Vou começar a narrar um pouco do documentário, isso é, spoiler!!

O documentário trata basicamente da matança de golfinhos que ocorre no Japão, os motivos são complexos e não lineares. A iniciativa partiu do treinador dos golfinhos que "interpretaram" o Fliper. Ric passou por uma experiência profunda, ele se apegou a uma "golfinha" pois são animais inimaginavelmente inteligentes, dóceis e carismáticos. No entanto, apesar de sua carinha sempre feliz a golfinha cometeu suicídio em seus braços ao, conscientemente optar por parar de respirar. A partir de então, o então rapaz, passou a sentir a necessidade de proteger os golfinhos, e se sentir culpado, pois, graças ao sucesso de Fliper, diversas pessoas passaram a nutrir o desejo profundo de ver, mergulhar e tocar em golfinhos. E outras pessoas, que sentem a necessidade de ganhar muito dinheiro, notaram uma demanda e construíram aquários e piscinas para proporcionar essas experiências aos "consumidores de emoção".

Golfinho, nós sabemos, não cresce em árvore. Eles nascem nos oceanos, e precisam ser capturados para ser expostos em cativeiros. Embora o SeaWorld afirme que eles se reproduzam muito felizes em suas piscinas. O ex-treinador supracitado, atualmente ativista ambiental, foi em busca da fonte dos golfinhos sorridentes e exibidos. Descobrindo uma pacata cidade no Japão denominada Taiji, a cidade (parece muito, muito, muito uma piada surreal, mas não é) possui monumentos à golfinhos e baleias, e diversas áreas são "privadas" e de acesso restrito, as quais não se pode filmar.

Sangue de golfinhos tingem a água numa enseada em Taiji.
Com muita astúcia, coragem, e dinheiro (!) a equipe do documentário conseguiu instalar umas câmaras secretas e filmar o massacre que ocorre nessas enseadas. São milhares de golfinhos mortos, o que tinge a água de vermelho, passando uma sensação verdadeiramente macabra. Alguns golfinhos mais bonitinhos são mantidos vivos e comercializados aos aquários, por até US$ 150.000. Nesses locais eles pulam e sorriem, vendendo alegria momentânea aos poucos privilegiados (e entediados) que podem pagar. O golfinhos lá são dopados de remédio, por estarem sempre sob muito estresse, afinal, no oceano costumavam nadar milhares de quilômetros diariamente.

Golfinho de US$ 150.000 no SeaWorld mantido em cativeiro
para que consumires de emoção possam beijá-lo.
Acontece que a conta não fecha, poucos são comercializados vivos e muitos são assassinados. A alegação era de que a carne era consumida pela enorme população japonesa que não tem muita área agriculturável e nem está disposta a pagar mais para os países que tem. Pois bem, acontece que no mercado não havia carne de golfinho a venda, e alguns entrevistados em Tóquio pareciam não acreditar que havia consumo de carne de golfinho. E isso porque, devido a dieta do golfinho ser a base de muitos peixes este acumula grande concentração de mercúrio. É tóxico! Ainda assim, descobriu-se, por testes de DNA que algumas carnes de baleia no mercado, eram na verdade golfinho tóxico e o mesmo na marmita das crianças (as quais são obrigadas a comer tudo para ficarem fortes...). Considerando aqui a diferença entre baleia e golfinho como a arcada dentária e o tipo de dieta. Bom, além de termos um fato chocante, o de que nossos golfinhos estão contaminados graças a nossa teimosia irracional em queimar combustíveis fósseis, continuamos com a conta da matança extrapolada.

Afinal, porque matar tantos golfinhos sem que haja tanta demanda, nem para o consumo alimentar, nem para o consumo de emoção? Golfinhos comem peixe, assim como nossos amigos japoneses, e todos os onívoros que buscam saúde e ômega-3, para serem mais inteligentes e bonitos. Logo, eles são competidores do mercado e os responsáveis pelo colapso pesqueiro! São pragas dos mares. Parece outra piada bizarra, e eu espero que seja. Outro fato sugerido no documentário se baseia no orgulho Japonês. Eles tem a tradição de matar mamíferos marinhos há milhares de anos, e aparecem alguns ocidentais prepotentes e dizem, "ei, mas nós amamos a fauna carismática! Não se pode matá-los. Só se pode matar vacas, galinhas, porcos e peixes." E então trata-se de algo bastante cultivado na nossa esquisita sociedade soberania e poder...

O documentário expõe maiores (e igualmente bizarros) detalhes, como a instituição que protege as baleias e não passa de uma fraude, em que o Japão paga para países miseráveis opinarem a favor da permissão da pesca de baleia...

No site do Take Part - the cove, diz que a quantidade de golfinhos mortos diminuiu. Não sei como eles conseguem contar e nem sei se tudo o que foi dito condiz fielmente com a realidade. O Japão afirma que não. Mas as imagens eram reais, e independente dos motivos os massacres acontecem anualmente.

Acho que vale sempre se questionar sobre nosso papel nisso. Apesar de ser algo distante, tudo está conectado e interligado. Eu, costumo me questionar há algum tempo, e assim como me sinto mal em assistir o massacre de golfinhos o mesmo me passa com todas as demais espécies, as quais deixei de consumir ano passado. Mas, ao mergulhar costumo sentir a necessidade de tocar na pouca e pobre vida marinha que resta, algo que passarei a questionar. E se sentia vontade de nadar com golfinhos, ou mesmo pagar para montar num barco e ir grunhindo e soltando fumaça até eles, já não sinto mais. Gostaria apenas de assistir a harmonia entre todas as espécies, todos os terráqueos (título do próximo documentário, o qual já baixei!).

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Um lapso de felicidade

Nesse carnaval fiz a maior aventura da minha vida! Pedalei 220 Km pela maior praia do Brasil.
Muitas pessoas julgam esse tipo de atividade como imbecil, acreditam ser um risco e esforço desnecessário.  De fato, na praia não pega celular e nem tem ambulância, e isso torna a aventura ainda mais saborosa. Saí com o namorido e um grupo de amigos, os detalhes mais técnicos estão no blog do Bizzi (Trio Rio Grande). Aqui gostaria de expor minhas impressões, que devido minha natureza são mais sutis.

Eu topei a aventura por estar na busca do auto-conhecimento, para mim seria praticamente uma viagem espiritual. Meu cunhado lendo a biografia do Steve Jobs disse que para ele tudo tinha uma conotação espiritual, acho que estou quase assim! Eu não queria fazer, para dizer eu fiz, ou para ter história para contar, ou para superar limites do meu condicionamento físico. Eu queria mesmo é passar por essa experiência, acho mesmo que é disso que se faz a vida. Sabe, ir a shoppings, e cinemas, assistir televisão, sambar na avenida, são coisas legais, mas parecem muito superficiais.

O primeiro trecho foi ótimo, diversas gaivotas animando o passeio. A dificuldade começou ao vermos nossa primeira parada. Eu ainda estava de óculos de grau e consegui ver o farol Sarita, pedalei mais rápido, durante algum tempo e nada... parecia tão perto, mas pedalamos muito até chegar, foi um sufoco. Essa parada foi para o almoço, comi pouco. No segundo trecho a dor era imensa, meus músculos doíam muito, meu joelho, os dedos das mãos, costa, pescoço, bunda e para piorar, cada pedalada fornecia uma dor de cabeça lancinante. Comecei ficar para trás. Passei a ter muita pena de mim, do meu corpo... mas fui pensando que parar não era uma alternativa, o grupo estava bem e muito afim de dormir num lugar abrigado (no próximo farol). Então, parei de prestar atenção nas dores, de checar a cada 5 segundos cada cantinho do meu corpo para definir qual doía mais. Me lembrei do objetivo espiritual da minha viajem, e resolvi me desapegar do meu corpo! Passei a me focar na mente, e trabalhar os pensamentos para que melhorassem meu humor. Sem saber bem como consegui pedalar mais forte, e me juntar ao grupo. Brincava passando ao lado do Biz: "e eis que surrge a forrrrça!". Nesse momento eu me senti realmente feliz. Foi uma felicidade 100% desprendida de qualquer coisa material, até do meu próprio corpo. Acho que temos confundido frequentemente felicidade com conforto, e percebi que uma coisa não tem nada a ver com a outra (ousaria dizer que até pelo contrário).

Descobrir essa felicidade tão cedo me ajudou na viagem, mas não eliminou toda dificuldade. A todo momento eu tinha que trabalhar intensamente minha mente, percebi que pensar em qualquer coisa fora daquele momento me atrapalhava, mesmo que fossem coisas boas. Eu tinha que estar 100% ali, focada. Por outro lado também não podia deixar que minha atenção se concentrasse nas dificuldades, isso parecia aumentá-las, dar uma proporção bem maior, e me fazia ter vontade de parar. Busquei me focar na paisagem, embora monótona, cada onda é diferente das outras, ainda mais para uma oceanógrafa! Dava para perceber as que subiam mais, não era de vento, era gravitacional.

A quantidade de lixo na praia, e rejeitos de pesca também era um pouco desanimadora. Mas, evitei lamentar isso o tempo todo.

Foi estranho ver tanta gente na praia do Hermenegildo... Como se para eles toda aquela extensão se resumisse aquele trechinho limitado.

Por fim, foi uma experiência incrível! Me esforcei, percebi que tenho subestimado meu corpo, que não preciso de muito para viver, que minha dignidade não depende do meu cheiro (hahaha). Foi algo profundo e transformador, do tipo que vai trazer um "que" diferente nos olhares cruzados de quem passou por isso junto, vcs sabem o que digo? Uma cumplicidade e admiração mútua e genuína.

Fantástico, e que venha a próxima aventura!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Composteri@s de plantão - parte 1

Algo vem me rondando, já tem alguns meses, ou seriam anos? Tenho sonhado com uma independência total, sabe, do tipo autosuficiência? E tenho pensado cada vez mais que a chave disso reside na permacultura, agroecologia... eu ainda não sei muito bem os conceitos que as envolve. Mas adoraria plantar mais e comprar menos. Buscando sites noto que existem diversos movimentos nesse sentido. E que se tem uma coisa importante é a troca de informação (gratuita).
Então, cá estou para relatar minha experiência no projeto da composteira da minha universidade, a FURG!
O projeto já está entrando no seu terceiro ano. Ele teve início com a empresa júnior ECOSERVICE. Para entrar cada candidato passava por uma gerência da empresa, os de projetos tinha que bolar um projeto. Nosso colega Hugo, sugeriu a ideia de compostar os resíduos orgânicos do restaurante universitário - RU. Eu acabei ficando encarregada da gerência de projetos e optamos por dar continuidade ao projeto. Visitei alguns lugares, conversei com algumas pessoas, o mais difícil foi entender como funciona o tal sigproj. E aos trancos e barrancos o projeto foi submetido e aprovado. Inclusive com o auxílio de um bolsista. Conseguimos ajuda de um espetacular consultor, o Chris, que deu todo suporte técnico.
Mas, o bolsista, que já não tinha lá um ideal muito ecológico, recebeu uma oportunidade melhor e pinicou. O desespero foi geral. Mas, chegamos num feliz consenso de tocarmos nós mesmo o projeto de maneira voluntária! Cada um ficaria responsável por realizar a função em um dia da semana.
Assim, o bonde foi andando. A ecoservice mudou de gestão. E a nova gestão chegou a conclusão de que o projeto não se encaixava com os ideias da empresa. Essa atitude gerou um certo conflito. É que assim, para algumas pessoas é importante a produção de solo fértil, a descontaminação de corpos hídricos (evitando-se chorume), e para outras pessoas, por a mão no lixo para esperar virar húmus, parece piada.
E o projeto continuou. Isso porque existem pessoas que compartilham fortemente com o ideal da permacultura. A professora responsável, Dione, é uma entusiasta do nosso projeto, o Vandeco, funcionário que trabalha no horto se dedica completamente ao projeto. E nós, sem muita liderança, vamos tocando, mais com o coração do que com a razão.
Na MPU, um dos voluntários, o Bahia, apresentou o projeto, e despertou muito interesse e elogio.
No próximo post pretendo mostrar o que fazemos cada dia nas leiras.

Ainda não entendo muito a diferença de leira e composteira, eu imagino que essas pilhas grandes que nós fazemos são leiras, e a que eu tenho em casa, dentro de um cesto é composteira. Mas o importante é transformar o resíduo orgânico em abudo natural de ótima qualidade.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

informação deficitária

Antes (55 anos) e agora, no mesmo píer. 
Vídeos como este "Como nós destruímos o oceano" me deixam profundamente irritada. Trata-se de um ecologista (Jeremy Jackson, com diversos artigos científicos puplicados) de coral que alerta para o efeito sinérgico de nossas ações. A poluição, a sobrepesca, e a mudança climática interagem de tal forma, enfraquecendo tanto a saúde dos corais que estes não conseguem se recuperar de desastres naturais, perdem a resiliência. Ele afirma que estamos tornando nossos oceanos desertos e tóxicos, e o pior não sabemos lidar com isso, a ganância e o egoismo são as piores poluições.

Hoje uma matéria divulgada pelo UOL vem a corroborar que o peixes vão ficar menores, em consequência da sobrepesca e aquecimento global. Mas, eu noto que isso não é algo para daqui 50 anos. A foto ao lado é mostrada no vídeo e deixa claro que o problema é real e atual!

Na campanha do Greenpeace Detox, que é voltada para indústria da moda, vê-se uma alusão ao alienismo da sociedade em geral. O que é compreensível, uma vez que o preço de pescado não dá sinais de crise, foi sutil a mudança de espécies e a diminuição de seu tamanho nas peixarias (cada vez mais escassas). Agora cortamos os peixes em pedacinhos, bem pequeninhos, e pagamos caro em sushi sem imaginar crise alguma, ficamos felizes por termos a oportunidade de pagar por isso, enquanto muitos não tem... A mídia anuncia o benefício para a saúde de ingerir proteínas oriunda do pescado rico em ômega-3, a tal ponto que o indivíduo pensa estar fazendo um atitude absolutamente benéfica, sem questionar o egoísmo disso.

Além do mais, existe a aquacultura, que vem fornecer "pescados" eternamente, claro, apenas aos que puderem pagar. Muitos defendem com unhas e dentes essa nova atividade como a panaceia da questão pesqueira. A mim não agrada nenhum pouco. Pois, o pouco que conheço da sociedade atual isso será um cartão branco para diminuir ainda mais a preocupação com os estoques naturais e a saúde do oceano. Ainda mais, é uma atividade intrinsecamente concentradora de renda, embora venha havendo algumas iniciativas no sentido de capacitar comunidades carentes para cultivar seu próprio pescado, é inevitável que com o tempo um venha a comprar o espaço de outros e empregá-lo na sua própria fazenda. É impossível estudar a questão ambiental desagregada das variáveis social e econômica.

Tive a oportunidade de conhecer um pescador artesanal de minha cidade. Ele mora em uma casa simples e pequena. Muito embora sua rua termina em um píer para dentro da Lagoa. O píer está em ruínas, porque o último prefeito não era do mesmo partido que (acreditava) os moradores da vila.  Esse pescador disse que já tentou, por pressão dos pais, sair da pesca e trabalhou em empresas, mas quase enlouqueceu, descobriu que gostava mesmo é da sensação de liberdade de trabalhar na Lagoa. Em nossa conversa tranquila, que durou mais de 6 horas, ininterruptamente, ele diz que o que falta é orientação. Muitos dos pescadores nem sequer sabem ler. Eu imagino a dificuldade que eles tem em administrar o orçamento maluco deles, que em 3 meses recebem o que devem utilizar no ano todo, sem ter tido orientação alguma de economia, administração, finanças etc.

Enfim, apesar de estarmos na era da informação, parece ainda ser a falta de troca de informação e conhecimento entre dois setores isolados um sério problema. De um lado a sociedade civilizada ignora sérios problemas ambientais e sociais e a causa destes, de outro, a sociedade marginalizada não tem acesso aos mais sofisticados conhecimentos, já tão corriqueiros no dia-a-dia dos primeiros.