quarta-feira, 28 de novembro de 2012

14 parques eólicos chegam de pára-quedas!

Ontem tive a oportunidade de participar de uma reunião do COMDEMA - Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente. Pelo pouco que pude entender, a discussão era acerca da instalação da linha de transmissão dos parques eólicos.

A coisa começa esquisita. A licença para esses parques coube inteiramente a FEPAM, que exigiu um RAS (tipo de rima, mas mais simplificado) e como esse procedimento não prevê audiências, a participação pública foi NULA. Imaginem vocês que me sinto parte do Cassino, eu amo esse bairro, essa cidade, pela qualidade de vida, eu ando de bicicleta e meu estresse beira a zero (eu digo beira porque ainda não aprendi a lidar totalmente com as exigências do mestrado). Mas então, cai do céu um tal de pólo naval, e faz o maior furdunzo na cidade, esse polo naval se consolida por parte de uma demanda crescente por petróleo, não de minha parte, que tenho trabalhado em diminuir minha demanda pessoal... eu não sei bem de quem e para que é essa demanda. Talvez seja da energia que esse mesmo setor utiliza, pois, voltamos aos parques eólicos...

Para atender a demanda, certamente não minha e nem dos moradores, mas do tal pólo naval serão instalados 14 parques eólicos!!! Não tenho dúvidas que seja uma fonte energética menos agressiva do que outras opções. Mas, vejamos como se dá essa materialização! O órgão ambiental estadual não dialoga sequer com o municipal, que dirá com a comunidade. Os engenheiros são de outros estados, acredito que os projetos sejam de outros países, mas possivelmente o dinheiro para apoio financeiro do BNDES. A licença da instalação da linha de transmissão, pelo que pude notar, foi (ou está sendo) concedida individualmente, libera-se para uma pequena quantidade de kV passar no meio da cidade, então existe outro parque com mais kV e já existe uma linha de transmissão...

O relatório ambiental exibido beirou o ridículo: nossa equipe de biólogos (provavelmente nenhum rio grandino, apesar de existir uma universidade aqui) reconheceram x espécies de anfíbios das quais y estão em extinção (idem para aves, mamíferos, roedores etc), por conta disso o nosso parque tomou a seguinte configuração...

Houveram 2 manifestações que eu considerei importantes, um morador do bolaxa questionando a falta de inclusão dos moradores no processo, da questão social (inclusive ele questionou que os empreendedores não sabiam sequer a quantidade de casas no bolaxa, ao passo que um respondeu entre dentes, 500, e ele rebateu, suavemente, são 940 casas!)
Outra consideração de um professor da FURG quanto ao estudo ambiental, ele considerou a importância de se saber o comportamento das aves, as rotas de migração, os ninhos, o local de reprodução... esses estudos são caros e os orçamentos previstos pelos órgãos de fomento a pesquisa não cobrem, o órgão licenciador não cobra esses estudos e o empreendedor não se interessa.

Essa foi a primeira reunião de que participei, e me deixou um pouco desanimada e descontente. O encaminhamento da reunião mais importante foi o de pedir à FEPAM uma audiência pública, outro detalhe é que o COMDEMA já havia solicitado maiores informações do processo, ao passo que o representante do órgão estadual nos informou com essas palavras "mas não adianta mandar cartinhas, elas se perdem dentro da FEPAM"... =O oh my god...

Espero participar dos próximos capítulos!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Panaceia

Ando terrivelmente mergulhada em notícias trágicas e problemas locais, mundiais... Por estar na área ambiental já tenho que lidar com problemas, e somando-se a isso, com a visita de meus pais estou tendo acesso as "deliciosas" notícias do jornal da manhã:

Depois da musiquinha alegre e suave, vem um "bom dia" feminino, seguido de um masculino, e logo na seguida: - Uma policial militar foi morta na madrugada dessa x-feira com 10 tiros nas costas. Daí se seguem os detalhes, muito explicados. Eu prefiro me concentrar na imagem do pão com manteiga, mas certamente a televisão mostra cenas do crime. Meu estomago embrulha, e começo um esforço mental sobre-humano para não chorar, ou não me revoltar, e tentar reencontrar o meu bom humor em algum lugar da sala. Minha mãe, como parte do ritual reclama das notícias dizendo que o pensamento coletivo está "dando força", e que a propaganda é alma do negócio, meu pai, com algum desconforto ignora, pois deseja ávidamente saber das notícias que interessam. Saio de casa com o pão embrulhado na garganta, tropicando nos meus pés sem saber ao certo o que seria melhor, ficar ouvindo "aquilo" ou sair e me submeter "aquilo", embora ouvindo coisas mais agradáveis.

O fato é que as coisas agradáveis não são notadas por quem está com as realidades supracitadas na cabeça. E então, o nosso colega dá um relato pessoal dizendo que foi o primo dele, em uma das notícias, que morreu com um tiro na nuca. Sabem, eu não fiz grandes esforços para voltar para São Paulo, por que Rio Grande é maravilhosamente pacata, não tanto quanto o Uruguai, mas costumava ser muito tranquila.
Na minha reunião de Logosofia tive a "oportunidade" de saber alguns detalhes a mais do crime com uma amiga promotora, os detalhes envolviam tijoladas, mas o detalhe que me chamou a atenção foi que os menores de idade, que praticaram o crime, serão detidos por 3 anos. Quer dizer, que bosta de sociedade é essa que imagina que esse sistema pode resolver o problema? Que bosta de sociedade é essa que desconfia que dar uma bolsa qualquer coisa de 600 mangos pode resolver o problema da miséria? Que bosta de sociedade é essa, que segue acreditando que quem tem poder aquisitivo foi por sorte, mérito e esforço, e o resto que se esforce e segue comprando merdicas feitas por mãos miseráveis num regime de escravidão?

Ai, ai, me desculpem a fúria do momento, mas não posso me questionar sozinha. Eu sei que se questionar dói e confunde, mas temos que fazer isso, temos que encontrar nossa responsabilidade nisso tudo. Temos que mudar nosso paradigma e ter uma visão ecossistêmica, temos que parar de pensar em como ganhar o nosso dinheiro e que se foda o resto, ou doar 100 mango para qualquer instituição e dormir em paz como se tivéssemos feito a nossa parte. Cada vez mais eu chego a conclusão que estamos dando uma responsabilidade ao dinheiro que ele não tem, estamos comprando coisas que não estão a venda.
Eu sou muito a favor dessa distribuição de bolsas, por considerar a necessidade de distribuição de rendas, mas, pelo amor de deus, não dá para alguém ter a vida melhorada com isso, morando um barraco fétido, com vizinhos mau-educados, com o filho indo a uma escola decaída repleta de professores com pouca condição de ensinar alguma coisa. E essa pouca condição não se restringe ao salário, como disse cada vez acredito menos no dinheiro como solução, essa condição depende de esse professor ter tido um ensino de qualidade na universidade, o que é nojentamente raro, tendo passado por uma universidade de qualidade posso garantir que é mais que normal conquistar um diploma sem ter aberto um único livro. O professor tem que ter acesso a livros, muitos livros, novos, atualizados, alguém já entrou numa biblioteca pública?! A internet é um instrumento preciosíssimo, mas nós não sabemos usar, talvez seja uma particularidade dos brasileiros, que estamos a gerações sendo incentivados a copiar, a reproduzir. Copiamos políticas americanas e europeias, copiamos como eles administram empresas, copiamos como eles se comportam, copiamos mau e porcamente, e valorizamos quem copia melhor, não incentivamos e escarniamos os que mostram alguma tendência a criar, chamamos inovador o que copia primeiro.

Para mim, a panaceia é o humanismo. O incentivo da formação de seres humanos críticos e responsáveis, e para atingir isso, devemos cair no jargão da educação, o que eu cresci ouvindo, mas nunca vi. E é uma educação de verdade, não frequentar a escola, isso não adianta nada. Temos que saber o real valor da escola, de saber, de aprender, temos que saber e falar para as crianças que estão lá disponibilizando um tempo precioso de suas vidas sem nem ao certo saber o porque.

Os menores infratores, supracitados, cresceram à margem de uma sociedade podre, poderia apostar com vocês que eles nunca foram tratados com algum respeito. Tiveram uma atitude, me perdoem, previsível, e irão ser detidos... Vocês acham mesmo que nesses três anos eles irão pensar, puxa-vida, que coisa horrorosa que eu fiz sujando de sangue esse mundo tão lindo e colorido do qual eu quero muito fazer parte... e que então eles irão sair de sua reclusão, com esse "histórico" e que as pessoas irão abraçá-los e dizer, "ai, que bom que você se arrependeu e quer fazer parte do nosso mundo colorido, seja bem vindo, e repare, ele tende ao cor-de-rosa"!

Eu tenho minhas dúvidas, e como minha parte, eu procuro melhorar, eu procuro me questionar, procuro olhar nos olhos do mais simples e fodido e reconhecê-lo como igual, procuro ver nele o ser maravilhoso em potencial que ele é, e procuro assiduamente dar o real valor aos objetos. Às vezes eu escorrego, e às vezes me deprimo pois percebo que estou gradualmente me marginalizando, mas eu sigo pensando, e fortificando meus princípios, acho que o nome disso é moral, que sempre ouvi sendo criticada e escrachada. Mas, e para concluir, acho pessoalmente que tirando nossa moral não nos resta muita coisa...